quarta-feira, 16 de março de 2011

Dois acidentes de trabalho ontem no Pecém

Dois acidentes ocorreram ontem, dia 15, na região portuária do Pecém, a 50 km de Fortaleza.  Um incêndio no canteiro de obras da Usina Termelétrica do Pecém e um acidente envolvendo um operário do setor de transporte resultaram em uma morte e mais de 1200 desalojados.

Um operário morreu, ontem à tarde, quando trabalhava no pátio do Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza. O trabalhador - identificado como João Simão Ferreira, de 24 anos - era vinculado a empresa terceirizada ´Daniel Transportes´ (que atua na área de transportes e operações portuárias) e estaria operando um container quando uma corrente da estrutura se soltou e atingiu sua cabeça de forma violenta.

O operário morreu na hora, apesar da chegada rápida de uma ambulância ao local do acidente. A empresa informou que o funcionário trabalhava no setor de capatazia e usava todos os equipamentos de segurança necessários.

Ainda de acordo com a empresa, um técnico de segurança e engenheiros foram encaminhados ao local do acidente para identificar as causas.

Outros casosEm janeiro deste ano, operários do Porto do Pecém fecharam a rodovia CE-122, que liga a rodovia estruturante ao Porto do Pecém. O motivo do protesto foi a morte do montador Raimundo Mauro Lopes de Souza, de 38 anos, na tarde do dia 18 daquele mesmo mês.

Segundo os manifestantes, o trabalhador estava na esteira quando um cabo de aço rompeu. Raimundo Mauro foi atingido na cabeça e morreu na hora. Com a morte do funcionário, os outros operários cobravam mais segurança no trabalho.

Já em 31 de agosto do ano passado, outro acidente terminou em morte no Porto do Pecém. O soldador José Edvaldo Gomes, de 47 anos, foi atingido por uma barra sustentada por outras duas que desabou. A estrutura atingiu as pernas do operário, que por pouco não teve os membros decepados, conforme peritos que estiveram no local.
Com o caso ocorrido ontem, operários voltaram a reclamar da falta de segurança.


São Gonçalo do Amarante. Quase acabou em tragédia a discussão por melhores condições de trabalho de funcionários da Enesa Engenharia, que atua no canteiro de obras da Usina Termelétrica Energia Pecém (UTE - Pecém), de propriedade da EDP e MPX.

Segundo testemunhas, um incêndio provocado por pessoas descontentes com a política salarial da empresa destruiu todos os alojamentos dos empregados, na tarde de ontem, na localidade de Lagoinha.

Segundo funcionários que não quiseram se identificar, o real motivo do incêndio teria sido traição. "Há dois dias, estamos fazendo greve. Mesmo assim, nenhuma resposta foi dada. Tinha uma pessoa à frente do movimento, que ontem mesmo estava em cima do caminhão falando pra gente, mas ele se vendeu por R$ 40 mil após uma reunião a portas fechadas com a Enesa", disse um dos homens, sem querer se identificar.

Ele também não revelou o nome do provável líder sindical que os abandonou, com medo de sofrer qualquer tipo de represália. "Alguns operários viram ele indo embora, depois um amigo veio pegar a mala dele no alojamento. Foi quando começou a confusão. E também o incêndio", contou.

De acordo com outra testemunha, que também se negou a dar o nome, eram aproximadamente 13 horas quando alguns operários atearam fogo em nove dormitórios, um de cada vez. "Não foi uma ação calculada. Foi coisa de momento. Alguns mais nervosos que fizeram isso. A maioria, 90% não participou disso não", defendeu.

RessarcimentoNinguém se feriu, mas muitos trabalhadores não tiveram tempo de salvar muita coisa. "Eu estava tomando banho. Só deu tempo de pegar uma roupa. Perdi RG, CPF e carteira de trabalho", comentou um dos mecânicos da empresa.

Outro disse que vai fazer um Boletim de Ocorrência e acionar a empresa para conseguir o reembolso. "Meu prejuízo foi de R$ 3,5 mil. Perdi notebook, terno e outros bens. Não estava aqui na hora do incêndio, por isso não consegui salvar nada", desabafou um dos funcionários.

Apesar de reconhecer que os prejuízos foram grandes, um dos trabalhadores disse que o ato pode ter consequências positivas para a classe operária. "Por um lado foi ruim, mas, por outro, pode ser que a empresa passe a valorizar a gente ou os outros que poderão vir, caos haja demissões", opinou.

ReivindicaçõesConforme os operários, só naqueles alojamentos viviam cerca de 1,2 mil profissionais. Ninguém ficou ferido. Mas a Enesa tem entre 2 mil e 3 mil operários atuando no Ceará. A maior parte dos contratados é de fora, proveniente de vários estados, entre eles Goiás, Maranhão, Bahia, Pará e Piauí.

Os principais pontos de reivindicação são um reajuste de 20% no salário; melhoria no tipo de alimentação servida; redução no tempo esperado para visita a familiares em sua terra natal de 90 para 60 dias, sem custos ou permuta das horas por sábado trabalhado; e extensão do plano de saúde para o restante da família, com validade em outros estados, além do Ceará.

RespostasNinguém estava autorizado a falar no local. A UTE - Pecém se pronunciou por meio de nota. "A Energia Pecém informa que o Tribunal Regional de Trabalho confirmou a ilegalidade da paralisação iniciada na manhã de segunda-feira, 14, no canteiro de obras da usina. A decisão impede o bloqueio do canteiro e qualquer ação contra o patrimônio das empreiteiras e da usina".

A Enesa também se manifestou: "apesar da continuidade das negociações, ocorreu, na tarde de hoje (ontem), um ato de vandalismo ateando fogo no prédio de alojamento da empresa Enesa localizado a 10 quilômetros do canteiro de obras da usina, o qual está sendo apurado pelas autoridades; as responsabilidades. A Enesa informa ainda que está cumprindo com todas as obrigações e que esta empenhada nas negociações para o retorno a normalidade do trabalho", disse em nota.

Perda total9 alojamentos da Enesa foram destruídos por completo, na localidade de Lagoinha, a 10km das obras da UTE - Pecém
 
Fonte: Diário do Nordeste

Nenhum comentário:

Postar um comentário